HOMILIA
DO VIGESIMO TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM
O primeiro de todos os mandamentos
segundo os Padres do Deserto é “Escuta o Israel...”. Ouvir é condição para
obedecer a Palavra. Também São Bento inicia a sua regra monástica dizendo:
“Escuta filho, os conselhos do mestre...”.
Mas como os nossos primeiros pais
escutaram outra palavra então o homem se tornou surdo à palavra do Senhor. Por isso, com frequência a Sagrada Escritura
descreve a situação do povo de Deus fechado à Palavra, como tendo-se tornado
surdo e mudo e assegura que a desobediência a Palavra torna os lábios e os
ouvidos inúteis.
Por outro lado, as Escrituras afirmam
que a iniciação a fé é como se fossemos curados da nossa surdez e do nosso
mutismo. A fé ilumina os nossos olhos e cura a nossa surdez. Quando voltam a
obedecer à palavra então as línguas se soltam e proclama-se a glória do Senhor.
Isso significa que a nossa fé se apoia totalmente na escuta da Palavra de Deus
e em sua vivência. A fé realmente vivida torna o homem atento escuta da palavra
de Deus.
Na primeira leitura o profeta anuncia a
libertação do povo de sua cegueira e de sua surdez. O próprio Deus vem ao
encontro do seu povo e o ergue da situação de miséria espiritual em que se
encontravam. O profeta anuncia a esperança.
A profecia da primeira leitura se
realiza em Jesus Cristo. Jesus é aquele que vem para nos salvar. No evangelho
Ele abre os ouvidos e solta a língua de um surdo-mudo. Nessa cura que Jesus
realizou podemos ver uma imagem da sua ação nas almas: a cura que vem pelos
sacramentos livra o homem do pecado, abre-lhe os ouvidos para que escute a
Palavra de Deus e o faz soltar a língua para que proclame as maravilhas do
Senhor. Santo Agostinho dizia: “que a língua de quem está unido a Deus falará
sempre do que é bom, consolará os que choram e anuncia o amor de Cristo”.
O
pecado original tornou surdo os ouvidos interiores. A surdez da alma é pior do
que a do corpo, pois não há pior surdo do que aquele que não quer ouvir a
Palavra de Deus. E são muitos os que têm os ouvidos fechados a Palavra, como
também são muitos os que se vão endurecendo ante os apelos da graça. Quantas vezes Cristo se põe em nosso caminho,
mas muitas vezes o murmúrio do mundo não nos permite escutar a voz do Senhor. Com
muita sabedoria afirma a Imitação de Cristo: “Muitos escutam o mundo de
preferência a Deus; mais facilmente seguem a voz do mundo do que a vontade de
Deus. Promete o mundo coisas temporais e sem valor e é servido com grande
empenho, Deus promete bens soberanos e eternos e os corações dos homens são
insensíveis a sua voz”
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